Acabei de começar a leitura dessa obra de José Saramago, me encontro na página doze. Mas não posso continuar a leitura sem antes fazer um comentário sobre os dois primeiros parágrafos, que já me levaram a uma profunda reflexão.
Joana Carda riscou o chão com uma vara de negrilho, fazendo com que todos os cães de Cerbère começassem a ladrar, coisa que jamais haviam feito antes. Os cães ficam tão agitados que veterinários são mandados ao local para descobrir o que lhes fez proceder dessa maneira e os habitantes ficam tão irritados com os barulhos dos animais que decidem lhes dar bolos de carne envenenados, fazendo com que a paz volte a região. Porém, ao perceberem que um cão, após provar o alimento, morreu, os outros fogem. Ao analisar esse animal, os veterinários descobrem que ele não tinha cordas vocais e ficam confusos sobre como o cão pode fazer tanto barulho.
Nesse ponto, comecei a pensar que nós podemos nos encaixar no papel dos cães que estavam sem voz, controlados e pacíficos, sem incomodar seus donos. Bastou que alguém os atiçasse para que começassem a latir, o que no nosso caso seria o mesmo que uma pessoa começasse a agir e nos fizesse indagar e questionar os porquês das coisas e a lutar e opinar para as mudar para o que melhor nos fizesse.
Alguns (os donos) podem tentar nos dar bolos de carne, mas nem todos perecerão, afinal, também se pode aprender com os erros dos outros. O veneno nesse alimento pode ser o responsável por nos tirar não a vida, mas a vontade de lutar para torná-la mais digna. O veneno é tudo que nos deixa conformados com nossa situação, o que nos aliena.
Os veterinários não entenderam como os cães puderam fazer barulho sem terem cordas vocais. Nós também podemos fazer barulho, mesmo sem ter os meios considerados necessários para isso. Podemos mudar pequenas situações, injustiças, pensamentos ultrapassados, se fizermos um esforço e lutarmos pela melhora. Joana fez com que os cães latissem. Podemos ser a Joana que precisamos. Só me pergunto se queremos, afinal, podemos estar satisfeitos com o bolo de carne que nos foi dado.
Enfim, como já disse, mal comecei a leitura do livro, logo, não sei se era essa a mensagem que o autor queria passar, mas foi nisso que esses dois primeiros parágrafos me fizeram pensar. Espero não ter me distanciado muito do verdadeiro sentido desse trecho.
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