domingo, 30 de setembro de 2012

Memórias Póstumas de Brás Cubas

O título do livro por si só já pode causar intrigas, afinal, traz junto consigo o questionamento do que são essas tais memórias mortas. Porém, logo no primeiro capítulo, o verdadeiro significado delas é exposto, quando Brás Cubas se diz não um autor defunto (aquele que escreveu e depois morreu), mas sim um defunto autor (aquele que morreu e depois escreveu). Assim, a narrativa se inicia pela morte do protagonista, em uma tarde chuvosa, aos 64 anos de idade.
Após contar sobre seu velório e fazer uma transição, Brás Cubas volta ao seu nascimento, contando algumas de suas estripulias de criança e passando a sua adolescência. Descreve seu primeiro beijo aos 17 anos com seu primeiro amor, Marcela, uma moça bela e gananciosa, que fazia com que ele gastasse exageradas quantias com presentes para ter a atenção da moça sobre si, até que seu pai o obriga a ir para a universidade de Coimbra, com o objetivo de fazer com que ele esqueça a moça e tome um rumo na vida.
Anos se passam, e já de volta ao Brasil, ele fica noivo de Virgília. Em uma de suas caminhadas conhece a filha de dona Eusébia, Eugênia, por quem acaba se apaixonando. Porém, acaba abandonando a moça um tempo depois, devido ao fato dela ser coxa. Nesse meio tempo, Virgília fica noiva e casa com Lobo Neves, na promessa de se tornar baronesa.
Em mais uma de suas andanças pelas ruas do Rio de Janeiro, chega em uma loja e encontra Marcela, mas ela está velha, abandonada e tomada de uma doença que lhe deformou a face. Ele percebe, então, que sua vida havia tomado o rumo certo ao abandoná-la.
Quando o pai de Brás morre, ocorre uma briga com sua irmã, Sabina, e seu cunhado, Cotrim, a respeito da herança da família, o que faz com que eles se afastem. Longe da família, ele começa a freqüentar mais os eventos da sociedade e em um baile encontra Virgília, valsa com ela e os dois acabam se beijando, embarcando em um romance secreto.
Para evitar desconfianças, compram uma casinha para eles, deixando como governanta uma antiga criada da família de Virgília, dona Plácida. Passam a encontrar-se lá com frequência, até que geram a desconfiança do marido dela. Lobo Neves é transferido no trabalho e a família se muda para uma província.
Sabina tenta arrumar o noivado entre seu irmão e a filha de Damasceno, Eulália. Ele aceita e está a ponto de acertar os detalhes do casamento, quando ela morre subitamente devido a um surto de febre amarela. Desconsolado e já em idade avançada, ele busca em seu trabalho na câmara de deputados razões de se sentir útil e reconhecido. Mas, devido a uma de suas ideias, perde seu cargo e depois disso sua vida começa a se deteriorar.
Um dos personagens que ganha destaque no livro é Quincas Borba, um antigo colega de escola de Brás Cubas. De rico fidalgo, ele passa a mendigo e novamente a rico, para experimentar suas filosofias de vida, até que desenvolve o Humanitismo, filosofia que prega Humanitas como a gênese de todas as coisas e explica as adversidades da vida humana. Acaba ficando louco, e abraça sua loucura.
Talvez o que chame mais atenção nessa obra seja a linguagem que Machado de Assis emprega e a maneira que os capítulos são divididos, sendo por vezes interrompidos para que o autor estabeleça reflexões, explicações ou diálogos com o leitor, utilizando uma linguagem de familiaridade, alertando para as surpresas que a narração reserva. Os primeiros capítulos do livro são difíceis de ler, não estabelecem cronologia ou qualquer tipo de organização, razão pela qual muitos desistem de ler essa obra logo no início. Mas, quando se persiste, se percebe que é uma ótima narração, revelando muitos detalhes da sociedade da época, sendo, assim, uma das melhores e mais importantes obras do Realismo.

Enjoy it!